O uso de células-tronco é bastante versátil, como já comentamos em diversos textos aqui em nosso blog. Essas células “curingas” de nosso organismo. Isso porque elas são capazes de formar outros tipos de células, dependendo da necessidade do paciente. Podem formar células de pele, músculo, cartilagem, neurônios, células de órgãos, e também de ossos. Especialmente, as células-tronco do dente de leite das crianças possui uma capacidade maior ainda de se transformar em células de osso, neurônios, cartilagem e músculos por conta da origem de seu desenvolvimento. E foi olhando para essa oportunidade que cientistas brasileiros desenvolveram uma técnica para regeneração óssea em crianças com fissura lábio palatina, problema congênito que acomete 1 a cada 650 crianças no Brasil. Hoje vamos falar sobre fissura labiopalatina e o uso de células-tronco. Segue com a gente!
Lábio Leporino: o que é?
A fissura labiopalatina, conhecida popularmente por lábio leporino, é uma malformação congênita. A incidência no Brasil é bastante alta, sendo uma das principal malformações congênitas do país. Segundo a fonoaudióloga Giovana Brandão, chefe técnica da Divisão de Apoio Hospitalar do HRAC/Centrinho-USP, a fissura é resultado da falta de fusão dos processos faciais entre a quarta e oitava semana de gestação. Ela pode atingir diferentes estruturas e variar em formas e extensão.
O que pode causar a fissura labiopalatina?
Segundo o médico otorrinolaringologista Helder Aguiar, chefe técnico de Serviços Médicos do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP em Bauru (SP), as causas ainda não estão totalmente esclarecidas. Pode ser resultado de uma causa genética ou outras anomalias. Também pode ser relacionada a fatores ambientais, como obesidade, falta de vitaminas na mãe, uso de medicamentos ou uso de tabaco e álcool no início da gestação.
A criança com a malformação apresenta dificuldade para se alimentar, e alterações na arcada dentária e mordida, com comprometimento do crescimento facial e do desenvolvimento da fala e audição. Além disso, também pode trazer impactos sociais e de relacionamento, como o bullying na escola.
Tratamento tradicional para fechamento da fissura.
O tratamento para fechamento da fissura labiopalatina é complexo, e envolve uma série de cirurgias e acompanhamento profissional. Primeiramente há uma cirurgia entre os 3 e 6 meses para fazer a reconstrução do lábio e do palato (osso do céu da boca). Quando a criança tem cerca de 8 e 12 anos é preciso uma nova cirurgia para fechar a gengiva. Então, uma terceira operação é realizada, e essa é mais dolorosa. É retirado um pedaço do osso da bacia (ilíaco) para utilizar de enxerto ósseo.
Dra. Daniela Bueno, dentista, pesquisadora e geneticista, explica que há muita dor para a criança com a fissura. Elas precisam ficar internadas por dois ou três dias no hospital mas, se a cirurgia não for feita, não tem onde os dentes da criança nascer.
Fissura labiopalatina e Tratamento com Células-tronco do dente de leite
Como já falamos, as células-tronco podem regenerar células de ossos, o que traz ótimas oportunidades para o tratamento da fissura labiopalatina. O estudo clínico para esse tratamento está em fase final, e está entre as terapias celulares avançadas mais próximas de serem disponibilizadas para a população.
A Dra. Daniela Bueno passou a fazer osso com células-tronco do dente de leite das próprias crianças. Segundo ela, o processo de criação do osso leva cerca de um mês. A doutora já realizou 64 procedimentos utilizando um biomaterial associado às células-tronco do paciente. O biomaterial funciona como uma “esponja” de células-tronco. Ele é uma estrutura tridimensional que permite as células-tronco se multiplicarem nele. Assim, ele atua como um enxerto ósseo e pode ser utilizado para fechar a fissura labiopalatina.
Resultados para a saúde e para o bolso
O trabalho da Dra. Daniela Bueno (veja aqui nossa entrevista com a doutora) mostrou que existe uma alternativa menos dolorosa e ainda mais vantajosa em relação aos custos do procedimento. Isso porque as crianças não passam pela cirurgia de retirar o osso da bacia. Além disso, entram de manhã no hospital e saem no fim do dia. Isso significa uma redução do custo da cirurgia para a família, para o hospital e/ou para o sistema público de saúde. A doutora acredita que esse novo tratamento pode revolucionar a forma como a fissura pode ser tratada.
Recentemente, a doutora Daniela Bueno foi premiada pela International Society for Cellular Therapy (Sociedade Internacional de Terapia Celular) pelo seu trabalho inédito no mundo. Ela também atua desde 2007 na ONG Operação Sorriso, atendendo gratuitamente pessoas com fissura palatina. Ela também é consultora científica da R-Crio, atuando conosco no desenvolvimento de biomateriais e terapias regenerativas.
Regeneração óssea com células-tronco.
O trabalho da Dra. Bueno é um exemplo do potencial das células-tronco para formar células de osso. Diversas doenças e condições são resultado de falhas ósseas ou degeneração nas células dos ossos. Nesse sentido, as células podem atuar como “peças de reposição”, formando novas células de osso ou mesmo induzindo as células do organismo a se regenerarem.
O armazenamento de células-tronco é uma forma moderna e consciente de preservar a saúde. Isso porque a criopreservação, método de congelamento em temperatura extremamente baixa, paralisa o envelhecimento do material biológico. Portanto, as células congeladas SEMPRE terão a mesma idade que a criança tinha no momento de coleta. Dessa forma, irão crescer e envelhecer sempre com acesso à matéria-prima de seu corpo ainda jovem.
Continue lendo nosso blog para saber mais sobre as possibilidades que o armazenamento de células-tronco oferece para sua saúde e de toda sua família. Até um próximo texto!