A inteligência das crianças e adolescentes que permanecem por longos períodos em frente às telas pode ser comprometida. Essa afirmação tão alarmante é do neurocientista Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França. Ele também é autor do livro “Fábrica de Cretinos Digitais”, onde conta que smartphones e computadores, possivelmente, são as causas para uma geração de crianças que, pela primeira vez na história, são menos inteligentes do que seus pais.
Grau de inteligência das crianças
No livro, Desmurget explica que para analisar o grau de inteligência de uma pessoa existe um teste padrão, frequentemente revisado, que analisa o QI pelo mundo. Desse modo, na avaliação, feita há gerações, a inteligência sempre seguia em crescimento, ou seja, filhos mais inteligentes que os pais. Porém, é a primeira vez que a linha de evolução é decrescente em diversos país pelo mundo. Entre eles estão: Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda e França.
A revelação do neurocientista francês é gravíssima. Nesse sentido, estamos diante de uma geração de crianças prejudicas pelo exagero no consumo de tecnologias. Claro que existem outros fatores que podem afetar o desenvolvimento intelectual delas, como por exemplo a precariedade no acesso à saúde, ao sistema educacional, à nutrição, entre outros. No entanto, diante de alguns países onde o fenômeno foi percebido, essas dificilmente seriam as causas mais relevantes.
Exposição aos eletrônicos
Há tempos, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta para a alta permanência das crianças e adolescentes diante das telas. Em 2016, a SBP lançou um manual, atualizado recentemente, que orienta sobre a quantidade de exposição aos eletrônicos.
As crianças com menos de dois anos não devem ter acessos às telas; entre dois e cinco anos, o período máximo é de uma hora diária, com o acompanhamento de um adulto; entre os seis e 10 anos, duas horas, também sob supervisão; a faixa etária de 11 a 18 anos pode usar os equipamentos por duas ou três horas diárias e, jamais, deve passar a noite jogando em eletrônicos.
Leitura para estimular a imaginação
Infelizmente, por conta dos aparelhos, as crianças deixaram de brincar ao ar livre. Além disso, não conhecem jogos lúdicos, poucas tem prazer com a leitura. Sou autor de 15 obras infantojuvenis, acredito que ler é essencial para estimular a imaginação e desenvolver a criatividade. Portanto, a falta de interesse dos pequenos por livros, por exemplo, é um pouco de responsabilidade dos pais.
Definitivamente, como posso exigir que uma criança substitua o telefone celular por um livro se eu, que sou o exemplo, não leio e estou sempre com os olhos e a atenção voltados para a tela? Infelizmente, por conta da vida corrida e para compensar a falta de atenção, a solução encontrada foi presentear com celulares e computadores. Em contrapartida, a pouca convivência familiar e social também afeta o desenvolvimento e a inteligência das crianças. Temos uma geração de tela, que usa telefones inteligentes, mas não conhece a si mesma e não interage com o mundo. É lamentável.
Quem é David Nordon?
David Nordon é médico ortopedista pediátrico pelo HC FMUSP – Professor da disciplina de Saúde Pública da PUC-SP (Campus Sorocaba) e de ortopedia e medicina preventiva do Estratégia MED (curso preparatório On-line para provas de Residência Médica), Mestrando da USP, Pesquisador do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HCFMUSP) e idealizador do Projeto Pequenos Passos, projeto filantrópico de tratamento de Pé Torto Congênito.