Você sabia que 2,4 bilhões de pessoas no mundo sofrem com problemas odontológicos causados por cáries não tratadas, e que são 190 milhões de novos casos surgindo a cada ano? No Brasil, 40 milhões de pessoas não vão ao dentista por problemas financeiros e 16 milhões de brasileiros já perderam todos os seus dentes.
Esta perda ocasiona, entre outras coisas, na perda da esperança, da vontade de sorrir, de conseguir um emprego, de seguir adiante. Sem dinheiro e perspectiva, como ir em frente? Hoje o blog da R-Crio vai tratar das grandes possibilidades oferecidas pela maior rede de voluntariado especializado em odontologia no mundo, a Turma do Bem.
Desde 2002, profissionais voluntários geram inclusão social por meio da saúde bucal. São mais de 16 mil dentistas que atendem em seus próprios consultórios jovens de baixa renda entre 11 e 17 anos até completarem 18. A partir de 2012, esses dentistas também passaram a atender mulheres vítimas de violência doméstica, que tiveram a dentição afetada pelas agressões.
Ao todo, já foram atendidas mais de 65 mil pessoas em quase 15 anos de projeto, que inclui 20 funcionários e 600 voluntários em mais de 14 países – 90% dos resultados da Turma do Bem se concentram no Brasil. Agora a R-Crio se tornou parceira com o objetivo de unir-se, cada vez mais, a esses profissionais da odontologia que têm o lema da Turma do Bem “Fazer pelo outro como se fizéssemos pelos nossos filhos, com amor, estética e alegria”.
Com tantas pessoas beneficiadas, é importante conhecer um pouco das histórias de alguns envolvidos. A cirurgiã-dentista e ortodontista especialista pela UERJ dra. Vanessa Tavares Leal é uma das coordenadoras do programa Turma do Bem / Dentista do Bem em Vitória (ES). Há quase 30 anos na profissão e no projeto desde 2010, ela se surpreende com quadros clínicos que encontrou nesses seis anos e, mais ainda, com o retorno que tem dos pacientes atendidos. “Conheci a Turma do Bem por meio de uma dentista de Vila Velha, durante um evento. Logo depois me cadastrei e passei a participar ativamente como voluntária. Fui convidada para ser coordenadora diretória em 2011 e aceitei, porque sempre gostei de trabalhar praticando ações sociais. Tenho meu próprio consultório, com duas dentistas associadas e especialistas, e concilio meu tempo com a Turma do Bem, sempre procurando despertar a vontade em outros dentistas de fazerem a diferença”, conta.
E você sabe o que faz um dentista do bem? Para a dra. Vanessa Leal, é muito mais do que ‘fazer sorrisos’. “Um dentista do bem propicia, acima de tudo, inclusão social para pessoas que não sorriem, que não conseguem se socializar para conversar, para arrumar emprego. Esse tipo de atendimento não existe na rede pública”, explica.
E quem pode tentar se beneficiar? Assim como a dra. Vanessa, os coordenadores de demais regiões, estados, municípios e até de outros países possuem formulários de Índice de Hierarquia e Complexidade (IHC) para entender a condição social e socioeconômica de cada jovem, mulher, família. No caso dos jovens de 11 a 17 anos, esses coordenadores identificam as escolas públicas e, pessoalmente, fazem triagens presenciais para entender cada necessidade de tratamento. “São beneficiados os jovens com as condições bucais mais precárias pós-triagem visual, em piores condições sociais e que estão mais próximos do primeiro emprego, já que o sorriso impacta diretamente na vida de todo jovem”, completa.
Foi o caso do capixaba Claudinei Mota, que por meio do projeto, colocou aparelho dentário. “Eu usei meu aparelho por quatro anos e foi muito bom. Mudou a minha vida. Agora para arrumar um emprego vai ser muito melhor”, afirmou o jovem de 17 anos que agora só realiza revisões e quando completar 18 anos terá finalizado seu atendimento na Turma do Bem. Em 2015, voluntariamente ele participou de uma megatriagem no Dia Mundial do Sorriso, em 28 de abril.
Outra capixaba, Sara Gomes de 16 anos, ainda está em tratamento com a dra. Vanessa. “Ela chegou com o rosto inchado por um abcesso dentário. Após 30 anos de odontologia imaginei que um quadro como aquele não existisse mais, porém estava enganada. Foi preciso encaminhá-la para um dentista voluntário, que é cirurgião-buco-maxilo, para fazer a medicação por antibióticos e só posteriormente a extração do dente. Depois disso, iniciamos o tratamento ortodôntico dela, que ainda está em curso. A Sara também é atendida por um periodontista que faz o acompanhamento de limpeza para cáries que possam surgir, enquanto eu faço a ortodontia”, detalha.
Mais uma capixaba, a jovem de 14 anos Nicole Correa de Barros, está ansiosa para começar o seu tratamento (uma oclusão com medida gravíssima). Ela, a mais velha de cinco irmãos, cujo menor tem apenas 2 anos, é a primeira a ser beneficiada pelo projeto Turma do Bem. “Moro com meu pai, minha tia e mais três primos e estou no 9º ano da EMEF Otto Ewald Junior. No momento minha rotina é apenas estudar, mas tenho fé que durante ou depois do tratamento irei conseguir um emprego como menor aprendiz e minha rotina irá mudar”, contou Nicole.
Foi ela quem procurou ajuda e descobriu na internet a Turma do Bem. “Não sabia ao certo o que era, mas fui me informando. A dra. Vanessa é uma ótima pessoa, um amor, está me ajudando muito e me atende muito bem. Eu não iniciei meu tratamento, estou aguardando minha carta chegar, mas tenho certeza de que irá mudar muita coisa ter um sorriso mais bonito”.
Esses são só alguns exemplos do resultado local do projeto que é tão importante para todo o Brasil e mais 14 países, sendo 226 cidades da América Espanhola. A Turma do Bem foi fundada pelo Dr. Fábio Bibancos, cirurgião-dentista graduado pela UNESP (Universidade Estadual Paulista), especialista em Odontopediatria e Ortodontia e Mestre em Saúde Coletiva – presidente voluntário da OSCIP Turma do Bem. Ele é também autor dos livros Um Sorriso Feliz para Seu Filho, A Guerra dos Mutans, Boca! e Sorrisos do Brasil.