A saúde bucal na infância tem grande relevância para o desenvolvimento da criança.
Por esse motivo, aprender a higienizar a boca e os dentes, bem como fazer visitas periódicas ao odontopediatra devem fazer parte da rotina dos pequenos.
Nesse sentido, para orientar pais e responsáveis sobre a saúde bucal na infância, a R-Crio convidou dois especialistas para essa entrevista: o cirurgião-dentista e coordenador do curso de especialização em odontopediatria da Associação Brasileira de Odontologia Seção São Paulo (ABO-SP ), Dr. Júlio Cesar Bassi e o cirurgião-dentista e presidente da ABO-SP, Mario Cappellette.
ENTREVISTA COM O ESPECIALISTA
A entrevista tem por objetivo orientar para a saúde bucal na infância e, além disso, apontar os problemas enfrentados por conta da alimentação ruim ou falta de higiene adequada.
1 – É verdade que a qualidade dos dentes do bebê já tem início na gestação, com os hábitos da mãe durante o período?
R. Sim, é verdade. Todos os dentes decíduos se formam durante a gestação. É muito importante que a futura mamãe tenha uma dieta equilibrada. Existem evidências de que alguns fatores como a falta de proteínas e vitaminas, por exemplo, podem interferir diretamente na formação, na odontogênese e, por consequência, provocar anomalias de desenvolvimento.
2 – Quando a criança deve fazer a primeira visita ao dentista?
R. De acordo com as entidades – Associação Internacional de Odontopediatria (IAPD), Associação Latino Americana de Odontopediatria (ALOP) e Associação Brasileira de Odontopediatria (ABOPED) – a criança deve visitar o dentistas ainda no primeiro ano de vida. De preferência, a partir dos 5 meses de idade, para o início do processo de educação, prevenção e orientação aos pais e mães.
3 – É comum as pessoas não se preocuparem com a primeira dentição (os dentes de leite), pois sabem que serão substituídos pelos permanentes no futuro. Quais problemas esse tipo de pensamento pode trazer?
R. Verdade! Isso é muito comum. Existem alguns mitos em torno do dente de leite.
Não dói; não tem raiz; não precisa de procedimento endodôntico (tratamento de canal).
A verdade é que os dentes de leite são tão importantes quanto os permanentes na função da mastigação, fonação e estética. O mais relevante de tudo isso é que os dentes de leite são guias para a erupção dos dentes permanentes.
Por vezes, a falta de cuidado traz lesão por cárie, principalmente quando a criança não tem uma dieta saudável e higiene.
Hoje, a cárie é definhada como uma doença da alimentação e da falta de higiene . A lesão pode evoluir além da cárie e provocar problema endodôntico, abcesso, infecção e, até mesmo, a perda do elemento dental por falta de um tratamento precoce.
Perder o dente precocemente diminui o espaço na arcada. Futuramente, há consequências ortodônticas. A perda do espaço pode impactar a adaptação do dente permanente; ou a erupção em outro espaço que não seja o dele. Enfim, são inúmeras as consequências de uma perda precoce.
4 – Quais os motivos para a perda precoce do dente de leite?
R. A principal causa de perda precoce é por lesões de cáries extensas. É comum também a perda do dente decíduo por trauma.
5 – Entre os 6 e 7 anos as crianças perdem os primeiros dentes de leite, concluindo o ciclo da troca por volta dos 13 anos. Nesse período, o que é importante os responsáveis saberem sobre a saúde bucal das crianças?
R. Os dentes decíduos são muito mais suscetíveis para as lesões de cáries. Por esse motivo, os cuidados com a higiene bucal e o controle da dieta são essenciais. É importante a criança ter o a odontopediatra, para que sejam evitadas as má oclusão, retenção prolongada. Deve-se estar atento aos completo crescimento e desenvolvimentos das arcadas.
6 – Existem cremes dentais especiais para bebês e crianças pequenas. Por qual motivo não é apropriado usar cremes dentais com flúor para essas faixas etárias?
R. Não existem cremes dentais especiais para esse público. Conforme evidências científicas, é recomendado flúor para todas as idades a partir do primeiro dentinho. Portanto, todas as crianças devem usar pasta com flúor de 1100bpms.
O que deve ser controlado para evitar a fluorose (alteração do esmalte dentário por conta do excesso da ingestão do flúor durante a formação dos dentes) é a quantidade de creme dental, não a concentração de flúor.
Para os bebês até os dois anos, por exemplo, a quantidade indicada equivale a um grão de arroz.
Criança entre dois e cinco anos, um grão de ervilha. Para toda criança é importante a presença do flúor no creme dental.
7 – É verdade que chupar chupeta ou os dedos prejudica a dentição e o formato da arcada?
R. É verdade. A chupeta e os dedos provocam alterações na arcada. O ideal é evitar chupeta, bicos de madeira e os dedos na boca. Se a criança tiver um desses hábitos, é recomendado eliminar até, no máximo, dois anos e meio de idade.
Desde que criança não use com frequência a chupeta ou fique sempre com os dedos na boca, é possível a reversão das alterações na arcada com a ortodontia.
8 – Crianças também podem ter problemas com o mau hálito? Como tratar?
R. A falta de boa higiene ou lesões por cárie com cavidade, por exemplo, causam mau cheiro. Os resíduos alimentares, a placa bacteriana ou saburra (sujeira acumulada na língua), também. As condições bucais são as mais comuns para o desenvolvimento do mau hálito.
A boa higiene, alimentação saudável e a visita periódica ao dentista são essenciais para evitar o mau hálito e problemas mais graves e garantir a saúde bucal na infância.
9 – Criança tem bruxismo? Será um problema para o resto da vida?
R. Sim, podemos identificar na infância. Caso seja muito precoce, ainda não há uma técnica definida para o tratamento. O procedimento é aliviar algumas consequências da condição.
Quando o bruxismo é muito intenso e provoca o desgaste dos dentes, conseguimos amenizar. Em uma idade mais avançada, como na adolescência ou na fase adulta, há tratamento para que a condição não perdure para a vida toda.
10 – Como orientar os pequenos para uma higiene adequada?
R. Frequentemente recomendamos o uso de escovas em tamanho compatível com a cavidade bucal, creme dental com flúor 1100bpms e o fio dental, que é imprescindível para a remoção mecânica da placa bacteriana.
A criança deve sim aprender a escovar os dentes sozinhas. No entanto, ao menos uma vez ao dia a escovação deve ser realizada pelos pais ou responsáveis. Dar o exemplo constantemente é uma forma eficaz e muito fácil para ensinar.
11 – Sobre armazenar as células-tronco do dente de leite, para que se necessário, no futuro, ela se torne uma opção para o tratamento de uma doença, por exemplo. Qual a sua opinião?
R. Atualmente temos grandes evidências científicas de que as células-tronco podem ser armazenada e usadas no futuro, caso a criança ou o adulto tenham necessidade para algum tratamento de saúde.
Acho importante que tenhamos cada vez mais avanços nesse sentido. No que está relacionado aos dentes, obser uma evolução com célula-tronco para a formação de esmalte, dentina e polpa.
12 – Sobre a política pública brasileira para saúde bucal, dê a sua opinião e o que precisa ser melhor.
R. O Brasil precisa fazer muito nessa seara. Temos sérios problemas, como a alta prevalência de cárie na população. Contudo, essa não é uma questão apenas do nosso país, mas mundial.
Estudos apontam que a cárie na primeira infância é de altíssima prevalência. Em nosso país faltam ações para a prevenção e o tratamento adequado. Para a odontopediatria, que é a base, não há atendimentos. O SUS valoriza pouco os adontopediatrias. Não temos especialistas da área no sistema.