Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o médico cirurgião bariátrico Almino Cardoso Ramos afirma que a principal causa da obesidade é a alimentação inadequada e falta de atividade física, e explica como tratar a obesidade infantil adequadamente.
A obesidade infantil é um problema tão sério no Brasil que mobiliza o poder público, o setor privado e a sociedade com ações que possam prevenir a doença. Campanhas de conscientização acontecem frequentemente na tentativa de alertar os pais e incentivar os pequenos para uma vida mais saudável. Agora, essas iniciativas são importantes para que a nova geração brasileira vença a guerra contra o excesso de peso e todas as comorbidades causadas por ele.
No Brasil, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, uma a cada três crianças, de até 12 anos, está acima do peso. Além disso, outro levantamento, de 2019, do Ministério da Saúde, aponta que o índice de sobrepeso em crianças é de 16,33%; obesidade, 9,30% e obesidade grave em 5,22%. Da mesma forma, 18% dos adolescentes apresentam sobrepeso; 9,53% de obesidade e 3,90% de obesidade grave. Os números são alarmantes e crescentes, segundo o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, IFSO – Federação Internacional para a Cirurgia de Obesidade e Transtornos Metabólicos e cirurgião bariátrico, Almino Cardoso Ramos.
O médico, renomado no Brasil e no exterior por sua vasta experiência no tratamento da obesidade, é o convidado dessa entrevista ping-pong. Durante a conversa esclarecedora, ele explicou os riscos da obesidade infantil, falou sobre prevenção e como os pais podem ser atuantes diante desse cenário, auxiliando os filhos a terem escolhas melhores na alimentação e em hábitos do cotidianos.
1 – O que é a obesidade infantil? Como reconhecer que a criança está obesa?
Primeiramente, a obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo excesso de tecido adiposo de gordura no corpo. É chamada de obesidade infantil quando esse excesso está presente em indivíduos menores de 12 anos. São crianças que têm excesso de gordura no corpo. Para identificar a obesidade em adultos é usado o cálculo do ICM – Índice de Massa Corporal. Para tal, o peso é dividido pela altura ao quadrado. Se este número estiver entre 20 e 25, é normal; 25 a 30 é sobrepeso e, acima de 30, vamos encontrar diferentes níveis de obesidade. Considerando que a criança está em fase de crescimento, a simples aplicação do IMC traria alguns erros de cálculo. Ainda assim, existe uma tabela de ajuste. Na criança o IMC é calculado, depois deve ser colocado em uma tabela com cálculo de percentil para uma identificação mais clara do status de cada um – peso normal, sobrepeso e obesidade. Portanto é um IMC adaptado a um estudo de percentil, levando em conta o sexo e a taxa de crescimento de cada população.
2 – Quais as causas da obesidade infantil? Quais os sintomas?
Os sintomas estão relacionados com as doenças que acompanham a obesidade. É aí que estão os riscos e o que ela (obesidade) pode causar. Na verdade, como fatores geradores, que provocam a obesidade infantil, temos sempre que pensar em situações que envolvam uma alimentação inadequada e a falta de exercícios, falta de atividade física. Claro que o fator genético é preponderante. Filhos de pais obesos terão maior tendência de ter obesidade. Existem também algumas doenças, situações endócrinas que aumentam o risco do indivíduo ser obeso. O fator mais comum está relacionado a uma alimentação muito calórica (carboidratos e doces) e a falta de atividade física no dia a dia. É possível evitar a obesidade melhorando o hábito alimentar e tendo atividade física regular.
3 – Quais os ricos da obesidade infantil para a saúde da criança?
Há muitos riscos relacionados à obesidade. Como no adulto, a obesidade vai determinar o aparecimento de comorbidades que vão agravá-la como a hipertensão e o diabetes. Essas doenças podem aparecer nas crianças também. Hoje é muito frequente crianças com excesso de colesterol, triglicérides, esteatose hepática entre outras doenças causadas pelo excesso de peso. Veja formas como as células-tronco ajudam na saúde.
4 – Como os pais podem ajudar as crianças a conquistarem um peso saudável?
Crianças aprendem com o exemplo e o incentivo. Os filhos tendem a copiar os hábitos dos pais. Incentivar uma dieta mais saudável e a prática de atividades físicas regulares é fundamental. A prevenção é sempre o melhor caminho. Vale também estar atento à criança. Buscar identificar o problema no início, percebendo quais crianças têm o maior risco de desenvolver a obesidade. Encaminhá-las para o diagnóstico específico e o tratamento.
5 – Qual a taxa de obesidade infantil no Brasil?
Quando a gente vê as taxas de obesidade, a OMS diz que existem 75 milhões de crianças obesas. No Brasil, o IBGE diz que uma a cada três crianças está acima do peso. Nesse contexto, se a gente for ver os últimos dados no Ministério da Saúde de 2019, na criança vamos ter um sobrepeso de 16,33%; obesidade, 9,30% e obesidade grave em 5,22%. Nos adolescentes temos: 18% de sobrepeso, 9,53% de obesidade e 3,90% de obesidade grave. Essas taxas vêm crescendo continuamente nas crianças brasileiras.
6 – Como tratar a obesidade infantil?
A indicação, após o diagnóstico, é o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar composta por: endocrinologista, nutricionista, psicólogo e educador físico. Em síntese, esse último tem um papel preponderante na orientação da criança, em fazer com que ela consiga melhorar a sua determinação. Também aconselhamos um programa de reeducação alimentar e atividade física regular, melhorando a autoestima, fazendo com que essa criança volte a cumprir as suas atividades na escola, que tenha interesse em programas extras de atividade física, além dos oferecidos pela instituição de ensino. Que ela esteja engajada em algum grupo que pratica atividade física regular – futebol, natação, por exemplo. Ela deve ser incentivada à diferentes formas de atividades que possam ser praticadas no dia a dia.
7 – Quando é o momento de procurar ajuda profissional?
Quando os pais observam que a orientação dentro de casa, com incentivos para uma dieta balanceada, a práticas de atividade e estímulos para que a criança consiga controlar o peso não estão funcionando, é hora de buscar ajuda médica. Acima de tudo, a orientação de um endocrinologista, que atenda crianças, pode ser importante. A orientação de uma nutricionista também deve ser considerada. E, também, um psicólogo. Pode existir um fator psicológico gerando a obesidade pela depressão, ansiedade, pelo isolamento social que vivemos há mais de um ano, por conta da pandemia do coronavírus. Bem como a questão da piora pelo bullying na escola. Como resultado, a criança não quer ir mais à instituição educacional, fica em casa com atividade restrita. Passa o tempo ao computador, o hábito alimentar piora, come a todo o momento, consome refrigerantes. Portanto o psicólogo é muito importante no tratamento e acompanhamento.
Dr. Almino Cardoso Ramos é cirurgião bariátrico, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e foi presidente da IFSO – Federação Internacional para a Cirurgia de Obesidade e Transtornos Metabólicos.