Imagina só: armazenar suas células-tronco por décadas e, quando precisar usar, descobrir que elas não estão em condições de uso? Terrível, né? Para evitar isso, a R-Crio realiza alguns ensaios de qualidade com as células-tronco ANTES mesmo das células serem solicitadas pelo beneficiário para uso em terapias celulares, de forma que ele tenha a garantia de que suas células armazenadas de fato funcionarão em uma eventual necessidade.
A coleta e armazenamento de células-tronco é uma prática que já vem sendo realizada há décadas por famílias no mundo inteiro, e muito provavelmente também por você que está lendo esse texto. Entretanto, apesar de relativamente já ser uma prática popularizada, poucos laboratórios são habilitados para realizar a criopreservação de células-tronco, e menos ainda habilitados para produzir as células-tronco para realização de tratamentos.
Nesse texto iremos explicar os ensaios de qualidade que realizamos na R-Crio, e os cuidados que empregamos em todas fases do nosso processo, assim garantindo que o beneficiário possa armazenar suas células-tronco por décadas com toda tranquilidade e segurança.
Entenda o contexto
Só para contextualizar, os produtos de terapias celulares já são considerados pela Anvisa como um tipo especial de medicamento. Por isso, esses produtos devem ser produzidos de acordo com boas práticas de fabricação (do inglês, Good Manufacturing Practices – GMP), respeitando protocolos específicos, desde a coleta até a entrega para uma terapia celular. Leia aqui sobre a regulação para terapias com células-tronco no Brasil.
Coleta das células-tronco
A coleta das células-tronco é tão importante quanto os ensaios de qualidade do laboratório. Sabemos que muitos bancos de células-tronco realizam coletas de dentes de leite que caíram em casa, ou que já estão guardados há tempos. Infelizmente essa é uma prática nociva e desrespeitosa, pois a polpa dentária, local onde estão as células-tronco, é contaminada no processo. Além disso, se o dente caiu naturalmente, provavelmente a raiz já esteja absorvida pelo dente permanente, e as células-tronco na polpa já não estão irrigadas e nutridas. Com isso as células-tronco entram em processo de “autodestruição” chamado de apoptose.
Agora, pensando que os produtos de terapia celular são considerados medicamentos, você usaria um medicamento produzido no quintal de uma residência?
Por fim, após a coleta, o tecido coletado (dente de leite, siso, tecido adiposo ou palato) deve ser transportado rapidamente até o laboratório, com finalidade de manter a temperatura do Kit de Coleta e preservar a polpa dentária contendo células-tronco. Infelizmente ainda muitos laboratórios realizam esse transporte por Correios. Se você quer saber como fazer a coleta conosco, leia esse texto também.
Ensaios de qualidade com células-tronco no laboratório
Os ensaios de qualidade são imprescindíveis para garantir a saúde do material criopreservado. A R-Crio é um Centro de Processamento Celular (CPC), nome dado a laboratórios habilitados pela Anvisa para criopreservar e também preparar células-tronco para terapias celulares. Em 2018 fomos elevados de Centro de Tecnologia Celular (CTC) para CPC, assim nos diferenciando ainda mais dos demais laboratórios no Brasil.
Recebimento da Amostra
Quando recebemos o Kit de Coleta em nosso laboratório, higienizamos a parte externa, registramos a temperatura e tempo de transporte e fotografamos as condições de recebimento. Todos documentos da coleta são conferidos e digitalizados, e a amostra é higienizada para seguir para dentro do laboratório.
Isolamento e Multiplicação
Nós realizamos a digestão da polpa dentária, uma forma de isolar as células-tronco do tecido coletado. Para os casos de dentes de leite, nós “raspamos” o dente para extrair a polpa dentária, e seguimos para a digestão e isolamento das células em meio de cultura. O frasco de cultura celular é uma garrafinha de plástico (imagem abaixo). É nessa garrafa que fazemos a multiplicação das células-tronco.
Para multiplicarmos as células-tronco, as deixamos nessas garrafas imersas em um meio de cultura, líquido que mantém as células nutridas. Por fim, são elas são postas em incubadoras que simulam a temperatura e oxigenação do corpo (37º Célsius e Oxigenação com 5% de CO².). Como resultado, as células passam a preencher um frasco menor, depois são movidas para um frasco de tamanho médio, depois são movidas para um frasco de tamanho grande, até chegarmos à milhões de células-tronco.
É nessa fase que identificamos casos de recoleta. Em menos de 5% de nossas coletas precisamos realizar uma nova coleta da amostra, pois em um ensaio de qualidade, principalmente a multiplicação, não se comportou da maneira esperada. Portanto essa é uma situação frustrante, para nós e principalmente para o beneficiário, mas imprescindível para realizarmos um armazenamento que objetive a utilização das células-tronco em tratamentos de saúde.
Criopreservação em quarentena
Logo depois da multiplicação efetiva das células-tronco iremos seguir para a criopreservação em quarentena das células-tronco. Em seguida são separadas duas alíquotas das células-tronco multiplicadas, e ambas são criopreservadas. Para realizarmos esse processo de congelamento usamos uma máquina para realizar o decaimento gradual da temperatura, de forma que não danifique as células-tronco pelo choque de temperatura.
Após alguns dias de criopreservação, uma única alíquota é descongelada, e a outra se mantém em criopreservação em quarentena. Agora, a alíquota que foi descongelada é encaminhada para os ensaios de qualidade, permitindo nosso laboratório avaliar a qualidade das células após o descongelamento.
Ensaios de Qualidade com as células-tronco
São diversos os testes de qualidade realizados pela R-Crio para garantir a saúde das células-tronco. Após a realização de todos os testes são encaminhadas notificações para o cliente do estágio vencido. Alguns estágios são:
- Contagem e viabilidade: um ensaio para contabilizar a quantidade de células-tronco, avaliando a densidade celular por mililitro. Também avaliamos a porcentagem de células viáveis na amostra;
- Esterilidade: esse ensaio identifica a ausência de microorganismos na amostra que será criopreservada;
- Imunofenotipagem: esse ensaio comprova a identidade das células-tronco. Por meio de gráficos conseguimos ver se as células-tronco criopreservadas estão expressando marcadores (sinais que diferenciam as células-tronco mesenquimais de outras células). Esse ensaio de qualidade pode ser considerado o mais importante.
- Detecção de micoplasma: esse teste busca comprovar a isenção de micoplasma, um microorganismo que pode crescer em meios de cultura sem apresentar sinais típicos de contaminação, como turbidez do meio de cultura. Esse microorganismo pode invadir células e causar a apoptose (autodestruição celular).
- Detecção de endotoxinas: nesse ensaio buscamos detectar endotoxinas, substâncias liberadas após rompimento de membranas externas de certas bactérias, e que podem afetar significativamente o crescimento, função e até mesmo levar a morte das células-tronco, bem como causar danos a saúde do paciente.
Passando por todos esses ensaios de qualidade com sucesso podemos aprovar a amostra criopreservada em quarentena. Assim, a amostra que passou por esses ensaios é descartada, e a amostra em quarentena passa ser a definitiva para utilização do beneficiário.
Criopreservação final
Enfim chegamos a melhor parte: a criopreservação final. Nesse momento nosso beneficiário é notificado que as células-tronco atenderam as expectativas dos ensaios de qualidade, e que já temos a confirmação da criopreservação.
Posteriormente é emitido um Certificado de Criopreservação para o beneficiário (ver abaixo). Esse documento declara a quantidade de células-tronco criopreservadas; data da criopreservação; ensaios de qualidade que foram realizados; ID das células-tronco do beneficiário em nossos tanques de criopreservação e; uma assinatura do responsável técnico pelo laboratório da R-Crio, Dr. José Ricardo Muniz Ferreira.
Uma vida com mais possibilidades
Viu só? O armazenamento de células-tronco passa por todos esses processos para garantir que você, ou seus filhos, tenham um material da melhor qualidade para ser utilizado quando e onde precisar. E ainda, dependendo da necessidade de uso das células-tronco, podemos processar e multiplicar as células-tronco ainda mais, conforme solicitado pelo seu médico.
Hoje a coleta de células-tronco também pode ser realizada por adultos por meio do periósteo do palato e do tecido adiposo. Essas formas de coleta foram explicadas em um outro texto, o qual você pode ler aqui.
Semana que vem temos um novo texto sobre nosso serviço de armazenamento de células-tronco objetivando o uso em terapias celulares.
Até a próxima!