O uso de células-tronco em cirurgias plásticas e tratamentos estéticos prometem desacelerar o tempo e devolver a juventude.
Existem no Brasil e no mundo centenas de desenvolvimentos de tratamentos que estimam o uso da célula-tronco mesenquimal do tecido adiposo lipoaspirado para o tratamento de doenças como: Alzheimer, diabetes, doenças autoimunes, doenças da visão e até síndromes respiratórias como a COVID-19, entre outras. Essa técnica é amplamente debatida e difundida pelos profissionais da área, e existem resultados promissores que surpreendem os mais céticos profissionais da saúde.
As perspectivas de sucesso do uso das células-tronco para o tratamento de doenças e também para a longevidade é tão grande que despertou o interesse de outra área da medicina: a estética. Inúmeros cirurgiões plásticos do Brasil e do mundo já fazem a aplicação das células-tronco da gordura do próprio paciente para promover rejuvenescimento e harmonizar áreas como os seios e os glúteos. Eles acreditam até que seja possível desacelerar o envelhecimento.
No Brasil, o cirurgião plástico amazonense Dr. José Maria Cabral, que também é especialista em células-tronco, recomenda a coleta de tecido adiposo para criopreservação das células-tronco, assim abrindo portas para o uso imediato ou para uma nova forma de prevenção de saúde.
Nessa entrevista, ele explica os benefícios para os pacientes que desejam guardar ou usar as células, a técnica de extração e aplicação, além de como fazer parte de um grupo de médicos renomados e especializados nos procedimentos de coleta de células-tronco pelo tecido adiposo.
“Doutor Cabral, como exatamente podem ser utilizadas as células-tronco em cirurgias plásticas e procedimentos estéticos? E por que são tão eficazes?”
É um tipo de célula muito estudada pelo seu potencial terapêutico e que pode também contribuir para o rejuvenescimento da pele. Para o futuro, espera-se conseguir a recuperação de órgãos.
A célula-tronco mesenquimal, obtida com facilidade e em grande número a partir da gordura lipoaspirada do próprio corpo do paciente, pode ser usada para fins estéticos, conferindo um efeito natural em procedimentos como o rejuvenescimento da pele, preenchimento de sulcos, clareamento de olheiras e de manchas provocadas pelo sol.
Ela pode substituir os estimuladores de colágeno e também os preenchedores. Esses produtos obtidos através de células-tronco mesenquimais de gordura já possuem a devida regulamentação de registro de produtos de terapias celulares em nosso País, de acordo com a resolução da Anvisa 338/2020. Essas células possuem grande potencial de diferenciação. Por exemplo, são possíveis de serem transformadas em vários tipos de tecido, como cartilagem, músculos, ossos e vasos sanguíneos. Acima de tudo, essas células apresentam maior rendimento após o isolamento, maior taxa proliferativa e menor tempo na cultura sem a necessidade de expansão.
“Quais são os procedimentos testados com sucesso?”
Ótimos efeitos já foram comprovados no clareamento de cicatrizes, rejuvenescimento íntimo e para volumizar tecidos com lipoenxertias estéticas da face, bem como, para fins reparadores em reconstrução de mama, modulação de cicatrização em úlceras por pressão e como preenchedores em atrofias faciais no HIV.
São também utilizadas com sucesso em outras áreas da medicina como, por exemplo, em injeções intra-articulares para degeneração discal e em ortopedia. Em diversos estudos desponta como papel central em diversas especialidades da medicina e, através do maior entendimento de bases biológicas, celulares, moleculares e imunológicas, oferecerão um leque de opções terapêuticas com pesquisas em neurologia (Alzheimer) e cardiologia (infarto miocárdico).
“Como é feita a extração da gordura? E a aplicação das células?”
A tecnologia para coleta, processamento e enxertia evoluíram substancialmente nas últimas duas décadas. As células-tronco mesenquimais adultas do tecido adiposo (ADSC, do inglês Adipose-derived Stem Cell) são facilmente extraídas por um procedimento de lipoaspiração por sucção sob anestesia local.
Ela é emulsionada de forma mecânica e ou enzimática com material próprio para essa finalidade, e pode ser aplicada imediatamente na pele ou enviada para centro de processamento celular para criopreservação.
Este procedimento é chamado de nano-enxerto de gordura ou Nano Fat Graft. O processo pode ser feito também com o uso de centrífuga ou em laboratório para maiores quantidades, necessárias em tratamentos mais extensos, como a reconstrução da pele que sofreu uma queimadura.
“Como armazenar esse material caso o paciente não queira o uso imediato?”
Nos últimos anos, um nível cada vez maior de atenção tem sido direcionado ao potencial de armazenamento como alternativa ou complemento ao banco de sangue do cordão umbilical para vários dos potenciais tratamentos. E realizado por meio de criopreservação. Esse método consiste em preservar células ou tecidos biológicos por congelamento a temperaturas muito baixas com nitrogênio líquido, geralmente −196 °C. Tal procedimento é realizado apenas em Centros de Processamentos Celulares (CPC) habilitados pela Anvisa, como o laboratório da R-Crio.
As células-tronco presentes na gordura lipoaspirada são isoladas para mantê-las metabolicamente inativas. Ou seja, com a mesma idade que foram congeladas. Então, são evitadas mutações no DNA, danos ambientais causados pela alimentação, radicais livres e infecções. Quando necessário, as células são descongeladas e transplantadas. Teoricamente, elas não envelhecem e podem permanecer viáveis indefinidamente.
A criopreservação de ADSC é segura, de baixo custo e evita a necessidade de coleta repetida. Podem ser utilizadas, após descongelamento, em cirurgia plástica, terapia celular e engenharia de tecidos. É benéfico, portanto, para os pacientes ter um banco autólogo (do próprio paciente) de células-tronco criopreservadas e coletadas o quanto mais jovem possível.
“Essas células podem ser reproduzidas em laboratório? Como isso é feito?”
Ao chegarem no CPC, estas células passam por vários tratamentos in vitro para isolamento, posterior adesão, e após a sua expansão em colônias chegando a milhões de células-tronco com poucas semanas de cultura provenientes de apenas 5 ml de lipoaspirado.
Após controle de qualidade e quarentena essas células-tronco são separadas em vários flaconetes para criopreservação. Então, com essa coleção criopreservada, as alíquotas podem ser retiradas periodicamente para as necessidades cosméticas, medicina regenerativa, terapias celulares e aplicações reconstrutivas, que o paciente possa necessitar ao longo da vida.
“Nos procedimentos para aumento da mama ou do glúteo, é necessário refazer a cirurgia por conta do tempo? Para os implantes mamários de silicone, por exemplo, recomenda-se a troca.
Com o uso de células-tronco em cirurgias plásticas acontece a mesma coisa? Há a necessidade de mais células para manter o volume no futuro?”
O enriquecimento com células-tronco em cirurgias plásticas tornou a lipoenxertia uma opção ao silicone. Como resultado, ela é considerada uma excelente técnica para o aumento de seios, correção de assimetria e reconstrução. A injeção de células-tronco derivadas de tecido adiposo permite manter o volume dos seios obtidos após o enxerto de gordura.
A depender da técnica de manejo do lipoaspirado, enriquecimento de ADSC e filling (preenchimento), a taxa de integração do enxerto pode chegar a 80%. Caso haja necessidade de um volume maior ou uma taxa de absorção maior de 20% pode ser necessária outra sessão de lipoenxertia – justamente aí temos outra vantagem da criopreservação. Em pesquisas demostraram que o crescimento do índice de massa corporal (IMC) ocorreu também um aumento do volume total da mama.
A adição das células-tronco do tecido adiposo no lipoenxerto é fundamental para resultados duradouros. Após atingido o resultado planejado, não há necessidade de novos procedimentos futuros.
“Os procedimentos são seguros?”
Procedimentos de lipoenxertias enriquecidas com células-tronco são seguros, seja para pequenos preenchimentos, seja em cirurgias maiores como lipoenxertias de glúteo e mamas. Os procedimentos são realizados por especialistas experientes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
“Fale sobre o pós-operatório.”
O pós-operatório destas lipoenxertias são confortáveis com tecnologia para profilaxia de dor e complicações. Portanto a ausência de dor é o normal em pós-operatório de cirurgia plástica.
“Pode haver algum problema? Em caso positivo, qual?”
As complicações estão relacionadas à técnica cirúrgica, à experiência da equipe, ao ASA (classificação de risco da American Society of Anestesiologists), ao IMC e ao porte do procedimento. Em suma, as principais complicações locais são perda do enxerto, infecção e hematomas.
“Quais os benefícios para o paciente em usar as células-tronco do próprio corpo (autólogas)?”
As principais vantagens das células-tronco em cirurgias plásticas são a maior durabilidade e o menor risco de rejeição. Afinal as células-tronco pertencem ao organismo do próprio paciente. Evitando o risco do uso de materiais estranhos ao corpo como implantes de silicone (rupturas, síndrome lúpus like, câncer) e materiais aloplásticos para preenchimento como PMMA (granulomas, rejeição).
“Como um cirurgião plástico pode se especializar nessa área? E quais são as vantagens para o profissional?”
Filiando-se a sociedades representativas que tratam deste tema, tal qual a Sociedade Brasileira de Terapia Celular e Medicina Regenerativa (SOBRACEL). Assim também se pode realizar pós-graduação latu sensu nesta área de conhecimento parceria ANADEM/UCA e R-Crio Educacional.
“Como vê o futuro da coleta e criopreservação de células tronco mesenquimais de gordura?”
Não desprezando o diamante contido no tecido adiposo lipoaspirado. Utilizando tecnologia para enriquecer a gordura lipoaspirada com células-tronco para uso imediato (volumização). Também pode-se coletar o excedente para criopreservação, e desenvolver estudos para aplicações em medicina regenerativa e terapia celular de situações clinicas complexas muitas vezes sem alternativa médica.
“Criopreservar o lipoaspirado é consenso nacional SBCP hoje e, no futuro breve, a terapia com de células-tronco em cirurgias plásticas será técnica Padrão Ouro para tratamento de diversas doenças.” – Dr. José Cabral Jr.