Roberto Fanganiello, consultor científico da R-Crio, geneticista e pesquisador brasileiro na área de medicina regenerativa, células-tronco e bioengenharia de tecidos, assume cadeira na Universidade Laval, em Quebec, no Canadá.
O paulistano Roberto D. Fanganiello, formado pela Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade Yale (EUA), visa o intercâmbio de tecnologias e recursos humanos entre instituições e centros de pesquisas para impulsionar os avanços nos estudos com células-tronco no Brasil
Envolvido desde o início da carreira científica com pesquisas sobre doenças genéticas que acometem os ossos do complexo craniofacial, ser levado a trilhar os caminhos que direcionavam para a medicina regenerativa – com a associação de células-tronco e diferentes tipos de biomateriais e tendo em vista a proposta de regeneração óssea guiada – foi algo que aconteceu com muita naturalidade para o cientista, professor e doutor em genética molecular humana, Roberto D. Fanganiello.
Reconhecido internacionalmente por seus estudos científicos, livros e artigos publicados, o cientista ainda traz no currículo a idealização, criação e implantação, em parceria com o também cientista José Ricardo Muniz Ferreira, do laboratório R-Crio – Centro de Processamento Celular, especializado em isolamento, expansão e armazenamento de células-tronco obtidas a partir da polpa dos dentes de leite, dentes do siso, céu da boca (periósteo do palato) e tecido adiposo, sediado em Campinas (SP). Além disso, ainda presta consultoria para Startups e Spin-offs da área de biotecnologia.
Recentemente, Fanganiello aportou na cidade de Québec, no Canadá, como docente no curso de Odontologia da Universidade de Laval. Antes, já havia ministrado aulas naquela instituição, bem como na Universidade de Piemonte Oriental, na Itália.
Para o novo momento, Fanganiello tem projetos que trazem abordagens de design que combinam avanços recentes na ciência de biomateriais e biologia de células-tronco, para estabelecer modelos ósseos biomiméticos 3D com osteoindução, osteocondução e propriedades de osteogenicidade otimizadas. Seu programa de pesquisa tem como foco a influência dos parâmetros do processo de elaboração na estrutura física e química dos biomateriais; o efeito de diferentes tipos de células-tronco no crescimento do modelo ósseo e mecanismos moleculares que regem as propriedades de osteoindução, osteocondução e osteogenicidade de tecido ósseo.
Nessa entrevista, concedida com exclusividade, ele conta um pouco da trajetória na vida acadêmica, profissional, dos seus projetos e perspectivas sobre o uso de biomateriais na medicina regenerativa com base em células-tronco e bioengenharia de tecidos.
1 – Quem é o Roberto D. Fanganiello? Qual a sua formação e especialização? Quais as instituições em que estudou no Brasil e no exterior?
Sou biólogo de formação, pelo Instituto de Biociências, da Universidade de São Paulo (USP). Após minha graduação, fiz Doutorado na área de genética molecular humana. Comecei o doutorado também pelo Instituto de Biociências da USP, no departamento de genética e evolução. Uma parte dele fiz no departamento de ortopedia e reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale (EUA). Nessa época, trabalhava com dismorfologias craniofaciais, que são síndromes ou malformações do complexo craniofacial humano. Em seguida, ingressei em um pós-doutorado em medicina regenerativa, bioengenharia de tecidos e biologia regenerativa com base em células-tronco, no Centro de Estudos do Genoma Humano, também pela USP. Mais ou menos no meio do pós-doutorado, montei uma empresa de consultoria para Startups e Spin-offs na área de biotecnologia. O objetivo do serviço é justamente fazer uma assessoria científica e estratégica para os segmentos de biotecnologia.
2 – Como surgiu o interesse em desenvolver pesquisas e estudos com células-tronco?
Foi um caminho natural. Ao longo da minha iniciação científica e do doutorado já pesquisava doenças genéticas que acometem os ossos do complexo craniofacial. Foi um caminho natural começar a estudar células-tronco e associação de células mesenquimais e células estromais com diferentes biomateriais, com a proposta de regeneração óssea guiada. Ao longo do meu doutorado, trabalhei com células que possuem mutações genéticas que levam a síndromes ou malformações craniofaciais. Depois, durante o pós-doutorado, passei a estudar células normais, ou seja, células-tronco mesenquimais derivadas do tecido da polpa dental, tecido adiposo, da medula óssea, sem mutação, em associação com diferentes tipos de materiais para guiar a regeneração osteogênica. Basicamente, a proposta inicial era dissecar vias bioquímicas intracelulares e conferir se diferenças de perfis de expressão de genes e proteínas estavam também associados a um desempenho diferente na ossificação. Foi assim que comecei a trabalhar nas áreas de células-tronco, medicina regenerativa e bioengenharia de tecidos.
3 – Quais foram as frentes de atuação no Brasil?
Antes do doutorado, estudava síndromes e malformações dos primeiro e segundo arcos branquiais. Em específico, um tipo de síndrome chamada Treacher Collins (disostose mandibulofacial) – que corresponde a uma doença genética, rara, que provoca malformações na cabeça e na face, ocasionando olhos caídos e um maxilar descentralizado, devido ao desenvolvimento incompleto do crânio. Já no doutorado, passei a estudar um outro tipo de dismorfologia craniofacial chamada de craniossinostose – fechamentos prematuros de suturas cranianas que acontecem antes do nascimento e também durante os primeiros anos de vida, no momento do desenvolvimento em que o estojo craniano precisa ter as suturas abertas para o crescimento encefálico. Passei a estudar algumas craniossinostoses sindrômicas – Síndrome de Apert, Síndrome de Crouzon, Síndrome de Pfeiffer, Síndrome de Saethre-Chotzen. Foquei em entender o que, do ponto de vista da expressão gênica, de mutações no genoma desses indivíduos e de vias de sinalização intracelulares, estava diferente das células sem essas mutações, que levavam a essa característica ou comportamento celular alterado de fechar as suturas que não deveriam ser fechadas nesse tempo. No pós-doutorado, passei a estudar isolamento, expansão in vitro, caracterização e expansão de diferentes tipos de células-tronco mesenquimais adultas, com o objetivo de associá-las a biomateriais para regeneração osteogênica guiada. Explorei vários tipos de biomateriais, associados a diferentes tipos de células mesenquimais, em várias condições. Na medicina regenerativa temos um tripé de fatores que precisam ser otimizados para levar a uma regeneração excelente do tecido: tipo de célula e como ela deve ser tratada e isolada; scaffold que é o guia, ou seja, o biomaterial que será associado a essas células para a regeneração daquele determinado tecido e os fatores bioquímicos que serão associados ao biomaterial e às células para otimizar essa regeneração. Um quarto fator, que tem sido muito explorado, e que inicialmente não foi incluso nesse tripé, são os fatores físicos: microarquitetura do biomaterial, porosidade, diâmetro de poros, elasticidade. São fatores físicos que influenciam também em uma regeneração ótima daquele determinado tecido.
Nesse período, comecei a ministrar aulas na pós-graduação da USP. Já desenvolvia tecnologias aplicadas nessa área e muitos dos meus alunos começaram a querer usar a tecnologia e expor ideias. Queriam usar como transferência de tecnologia para a sociedade. Eu não sabia fazer isso! Ninguém sabia naquele ambiente!! No entanto, comecei a desenhar essa possibilidade. Um dos casos é o do cientista José Ricardo Muniz Ferreira. Nós já colaborávamos um com o outro desde 2011. Em 2013, José Ricardo estava fazendo doutorado no Instituto Militar de Engenharia, com ciências de biomateriais, e, eu, estava dando um curso de homeostase óssea e bioengenharia de tecidos na USP. Ele veio ver o meu curso como aluno visitante e passamos a conversar como poderíamos desenvolver um protocolo otimizado para isolamento de células tronco de polpa dental, caracterização dessas células e criopreservação para potenciais usos no futuro. Foi uma construção longa. Vários meses trabalhando juntos. Ainda não existia a R-Crio; éramos só nós dois. Foram muitas ligações, visitas. E, em determinado momento, conseguimos desenhar as patentes desse processo, tínhamos o desenho de plano de negócios e uma pesquisa de mercado. Foi assim que começou tudo. Foi um processo muito interessante. A partir daí, montei a minha consultoria para Startups e Spin-offs em biotecnologia. A R-Crio foi a minha primeira cliente, e continua sendo até hoje, embora já tenha anos de construção. Depois, montamos o prédio, o laboratório, começamos a contratar os colaboradores. É uma história longa, com mais de sete anos. Essas são as minhas duas atuações principais: na academia e como consultor científico e estratégico de startups, na área de biotecnologia.
4- Fale sobre algum projeto envolvendo células-tronco que tenha participado no Brasil e o quanto ele foi importante para você, como profissional e também para o país.
Tenho dois projetos. O primeiro, do meu pós-doutorado, que foi extremamente importante e de impacto imenso para o Brasil, sem dúvida, mas também na área de células-tronco como um todo e na área de bioengenharia de tecidos. É um trabalho cujo resultados foram muito bem aceitos internacionalmente, publicado várias vezes em revistas científicas internacionais. Nele trabalhei com células-tronco derivadas de polpa dental (dentes decíduos), com células-tronco do tecido adiposo e medula óssea. Dissequei molecularmente o que chamamos de assinatura de expressão dessas células, ou seja, caracterizei todos os transcriptomas dessas diferentes células e descobri, ao longo desse projeto, o que fazia com que as células-tronco de polpa dental ossificassem mais do que as outras duas fontes. Encontrei as principais moléculas responsáveis, que podem, inclusive, ser usadas para regular a diferenciação osteogênica de qualquer célula mesenquimal. Esse projeto teve um impacto imenso na área. Sou reconhecido por ele até hoje. Além disso, gerou muitos outros projetos de mestrado e doutorado. Tenho bastante orgulho, pois foi de fato um período muito importante e intenso da minha vida. No Brasil nos dedicamos vinte vezes mais do que aqui, no exterior, porque as coisas são bem difíceis aí.
O outro projeto do qual me orgulho muito é o da R-Crio. A tecnologia da R-Crio surgiu da academia, mas é um projeto de transferência de tecnologia, ou seja, empresarial, extremamente importante e muito grande. Hoje, se tornou um projeto “guarda-chuva” para vários outros. Me orgulho demais e falo sobre ele sempre que me perguntam, ou até mesmo quando não me perguntam (rs), porque foi extremamente desafiador fazer isso no Brasil. Desenvolver um protocolo otimizado de coleta e isolamento dessas células, controle de qualidade, proliferação delas in vitro, armazenamento. Estabelecer uma estrutura para isso. Montar um centro de processamento celular por detrás; comercializar; dentro de um período hiper turbulento para o Brasil e para economia. Ainda mais difícil para Startups e Spin-offs, que são empresas mais vulneráveis, estão iniciando e que precisam se estabelecer. Tenho que dar esse crédito principalmente ao José Ricardo, que foi quem trouxe essa ideia e que colocou muita energia nessa empreitada. E, depois, um tanto de muitos outros colaboradores, que fomos agregando ao longo do percurso. Porque ninguém faz um projeto desse sozinho. No início éramos nós dois, depois recrutamos mais pessoas e o projeto foi tomando uma forma mais robusta. A R-Crio hoje é reconhecida, tanto no Brasil quanto internacionalmente, e dela outros projetos nascem.
5 – Está envolvido em algum projeto atualmente? Qual?
Estou envolvido em muitos projetos. Não teríamos espaço para detalhar todos eles nessa entrevista (rs). Vou falar sobre três. Os projetos da R-Crio e vários derivados deles como o RC-Park, os didáticos, os de bioengenharia. Aqui, no Canadá, também faço parte de uma série de projetos que têm como foco uma continuação do que desenvolvi no meu pós-doutorado e também junto à R-Crio: a associação de células mesenquimais com biomateriais e com o desenvolvimento de biomateriais, com foco em três tipos diferentes de biomateriais – biomateriais com base em hidrogéis de alginato, que são flexíveis, podem ser associados com células e induzir a ossificação guiada; e materiais cerâmicos – que já são usados há bastante tempo na área médica. Estamos explorando isso. E materiais de titânio e outros metais com tratamentos de recobrimento de superfície para que otimize a adesão ao tecido ósseo. O terceiro grande projeto é a estruturação de uma cadeira industrial aqui, na Universidades de Laval, na área de bio-nano-tecnologia para medicina regenerativa, odontologia regenerativa e bioengenharia de tecidos. Já começamos a estruturar essa cadeira. Ela é uma complementação da cadeira acadêmica que tenho aqui e tem a proposta de pesquisa aplicada. É a transferência de tecnologia da academia para o mercado.
6 – Recentemente você assumiu um posto de docente no curso de odontologia da Universidade de Quebec. Como está sendo essa nova etapa na carreira?
Trabalho com a Universidade de Laval, em Quebec, no Canadá, desde 2019, bem antes da pandemia. Já dou aulas aqui há tempos. Em 2019, quando ainda estava no Brasil, visitei três vezes a instituição. Foi um período mais tranquilo, com fronteiras abertas, onde era possível viajar sem tanta burocracia. Era possível planejar a viagem. A outra parte, sempre fiz a distância, como faço também em minha consultoria. A última vez que vim para cá, foi em julho 2019. Fiquei dois meses. Em seguida, imaginava voltar em 2020, estava tudo planejado para fazer uma rotina parecida, mas não deu certo. Um pouco antes do Brasil, aqui tudo fechou. Foi um caos. Uma situação muito complicada, já que o inverno é bastante rigoroso. Fecharam tudo. O Brasil fechou em seguida. A Universidade de Laval ficou fechada de março a meados de setembro. As atividades eram feitas a distância, on-line. A reabertura foi lenta, por volta do final de setembro e início de outubro de 2020. No entanto, foi mudado o sistema de renovação de visto de trabalho. No Brasil foi um caos, um processo extremamente turbulento. É demorado, tem uma série de exames e taxas, e tudo estava fechado por conta da pandemia. Depois, as coisas fecharam novamente no início de 2021. Foi por volta de junho deste ano que pude começar a planejar novamente a vir para cá. Claro, eu já estava fazendo um milhão de coisas. Dei aula on-line no curso de verão daqui, na Escola de Medicina Dental, durante o mês de julho e início de agosto. No início de setembro consegui vir. Essa foi um pouco da saga.
7 – Quando começou o processo? Conte um pouquinho dos trâmites necessários.
Como falei na resposta anterior, antes da COVID era tudo muito mais fácil. Fui professor visitante também na Universidade de Piemonte Oriental, na Itália, no final de 2018, modelo parecido com o daqui. Foi muito mais tranquilo para ir, dar as aulas. Fiquei lá por três meses. Agora, de fato, está muito mais difícil e complicado de viajar. Antigamente eram necessários dois documentos para trabalhar: visto e o work permit (certificado que permite estrangeiro trabalhar no país em que não tem nacionalidade). Agora, depois do que contei, são pelo menos 21 documentos. Imagina o caos para reunir tudo isso em um período pandêmico.
8 – O que esse posto significa para você, para a sua carreira e para a odontologia brasileira, já que o Brasil é considerado o terceiro melhor formador de cirurgiões-dentistas do mundo?
De fato, o Brasil é um dos primeiros em formação de dentista no mundo. Isso tem um grande significado. Como disse anteriormente, estamos passando por uma década, talvez um pouco mais, muito complicada no Brasil e acabamos nos afastando do resto do mundo. Nos distanciamos do que está acontecendo nos países desenvolvidos no que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico. Ter brasileiros competentes, fazendo pesquisas competitivas e inclusivas, que possam comunicar também com o Brasil e beneficiá-lo, que possam levar colaborações, transferências de tecnologia e formação de recursos humanos é importante. Estou desenhando uma série de possibilidades de intercâmbio de alunos para mestrado, doutorado, pós-doutorado entre a Universidade de Laval e universidades e empresas no Brasil. É extremamente importante ter pessoas aqui. Estou dando o exemplo daqui, porque estou aqui. No entanto, falo em ter brasileiros nas melhores universidades do mundo, que possam catalisar essa ponte e compartilhar esse desenvolvimento com o Brasil. Isso é muito importante. Temos excelentes alunos no Brasil, com potencial igual, se não melhor, que os alunos de fora, em específico na área de odontologia. São profissionais bem formados. Os cursos são super fortes. Claro que tem muita coisa ruim também. Não estou dizendo que é uma maravilha. No entanto, selecionamos os melhores para todas essas áreas, transferência de tecnologia, colaboração para diferentes centros de pesquisa, universidades, empresas etc. E também a troca de alunos. Por esses motivos, essa posição aqui e minha função podem contribuir muito com o Brasil e com o Canadá. Os dois saem ganhando.
9 – Quais as suas perspectivas para o futuro sobre o uso de células-tronco em terapias? Temos no Brasil uma nova resolução da ANVISA – Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº RDC 505/2021, que definiu novas regras para registros de produtos classificados como terapias avançadas (produto de terapias celulares, de terapias gênicas e de engenharia tecidual). Qual a sua opinião sobre a questão?
Minha visão é extremamente positiva. Porém, realista. Quando começamos a fazer pesquisas nessa área (há 20 anos), muitos da comunidade científica, médica e a mídia estavam com o otimismo acima do normal. Achando que seria a cura para tudo dentro de um período muito curto – cinco anos, em média. Quando se perguntava para as pessoas, cientista inclusive, o tempo que demoraria para o desenvolvimento de terapias celulares para curar tal doença, a resposta era que dali a cinco anos teríamos a cura. A gente sabe que as coisas não são assim. Demora, é complexo, envolve muitos outros fatores. Hoje, depois de mais de 20 anos e também da maturação dessa área, sabemos que as questões são complexas e não é recomendado dar uma resposta definitiva de quanto tempo levará para a solução. Não temos essa resposta agora. E se eu der uma resposta de tempo maior, pode ser que isso se realize antes; se eu der o prazo de cinco anos, pode ser que eu esteja errado. Passado esse tempo, vão me interrogar, dizendo que eu afirmei tal coisa e não aconteceu. Atualmente, temos mais informação, maturidade regulatória, interconectividade dos grupos clínicos, regulatórios, científicos e indústria para, de fato, levar a uma transferência de tecnologia dentro dessa área de forma completa, que consiga replicar esses estudos de forma consistente, em diferentes ambientes e hospitais. Tem tudo para que se torne uma área norteadora da medicina em um futuro muito próximo. Já temos uma miríade de alternativas terapêuticas evoluindo para que passem de terapias experimentais e de ensaios clínicos, para que se tornem usos sólidos e mais gerais, disponibilizados para a população. Sabemos que é um processo longo, trabalhoso, bastante caro, que envolve muita energia. Bem, após explicar tudo isso, quero dizer que a perspectiva é excelente, temos uma quantidade imensa de frentes em diferentes áreas para tratar distintas doenças, diferentes tecidos. Tecidos bem diversos uns em relação aos outros, mas cada terapia e desenvolvimento é uma especificidade. Então, para cada uma delas é preciso desenvolver um protocolo e replicar. É preciso que ele seja consistente em diferentes centros clínicos. A partir do momento que se constata o funcionamento, torna-se uma terapia regulamentada e geral que pode ser usada para aquela condição em diferentes centros clínicos espalhados pelo mundo.
10 – Para encerrar, o que você tem a dizer para as pessoas que estão pensando em coletar e armazenar as suas células?
Vou dar meu posicionamento como cientista para as pessoas que estão considerando diferentes serviços. Temos no mercado, no Brasil e no mundo todo, vários tipos de serviços nessa área. A minha recomendação é para que a pessoa se informe muito bem antes de coletar. Quais células deseja coletar. Se for a do cordão umbilical, quais? Sangue? Parede? Célula de polpa dental? Do tecido adiposo? Outra fonte? Entre no site da empresa, leia, informe-se a respeito do serviço e características dessas células. Recomendo que os interessados consultem um especialista, que conversem com seus médicos ou com o dentista (no caso das células de polpa dental), pesquisem na internet (tem uma quantidade muito grande de informações fidedignas na internet em inglês e português). Eu mesmo, há mais de três anos, criei um blog chamado https://tudosobrecelulastronco.com.br onde eu e um time de autores publicamos posts sobre as diferentes aplicações das células-tronco. Lá, falamos das características das células, citamos referências. Como é um serviço inovador, disruptivo e extremamente importante para a saúde da pessoa ou da família que será beneficiada, recomendo que se informem e tomem a melhor decisão. Hoje tudo deve ser guiado pela informação. Temos essas diferentes fontes, que precisam ser consultadas. Cada um tem que formar a sua ideia e opinião sobre o assunto. Essa é a minha recomendação como cientista e também como educador.
Agradeço o convite e a oportunidade de contar um pouco sobre as minhas diferentes áreas de atuação e quero dizer que estou sempre disponível para falar sobre o meu trabalho e sobre a grande área da biologia regenerativa e bioengenharia de tecidos