O Atlas Mundial da Obesidade 2025 revelou dados alarmantes: aproximadamente 68% dos brasileiros apresentam excesso de peso, sendo que 31% convivem com a obesidade. Esses números destacam a urgência de abordar o Índice de Massa Corporal (IMC) elevado na população. Para discutir os impactos na saúde, qualidade de vida e os desafios enfrentados pelo sistema de saúde, entrevistamos o médico do esporte, nutrólogo e ortopedista, Thiago Viana.
O Atlas Mundial da Obesidade trouxe dados alarmantes sobre o Brasil. O que esse números revelam sobre os hábitos da nossa população?
O Brasil, assim como outros países, enfrenta um aumento preocupante nos índices de obesidade. Isso reflete mudanças nos hábitos da população, como maior consumo de alimentos ultraprocessados, redução na prática de atividade física e mudanças no estilo de vida, como maior tempo em frente às telas. Além disso, fatores socioeconômicos, como insegurança alimentar e dificuldade de acesso a alimentos saudáveis, também contribuem para esse quadro.
Quais são os principais impactos da obesidade na saúde física e mental?
A obesidade está ligada a várias doenças crônicas, entre elas diabetes tipo 2, hipertensão, problemas cardiovasculares e até alguns tipos de câncer. Também interfere na autoestima e afeta a saúde mental, aumentando o risco de depressão e transtornos de ansiedade. Muitas pessoas ainda enfrentam o estigma e discriminação por causa da doença, o que pode piorar ainda mais esses quadros.
Além da alimentação e do sedentarismo, quais fatores contribuem para o aumento da obesidade no país?
Podemos destacar influências genéticas, distúrbios hormonais, privação de sono e o impacto do estresse crônico. O ambiente alimentar também é fundamental, já que a alta disponibilidade e facilidade de acesso a produtos industrializados acabam interferindo nas escolhas alimentares. O acesso limitado a serviços de saúde especializados na prevenção e tratamento da obesidade também dificulta o controle do problema.
Existe um perfil populacional mais vulnerável à obesidade? O que pode ser feito para protegê-lo?
Sim, grupos de baixa renda são mais vulneráveis, pois enfrentam dificuldades no acesso a alimentos saudáveis, tempo e incentivo à prática de atividade física. Crianças e adolescentes também são um público de risco, já que hábitos alimentares inadequados na infância podem levar à obesidade na vida adulta. Pensando na prevenção para essa parcela da população, é fundamental investir em educação alimentar, melhorar o acesso a alimentos saudáveis e incentivar práticas esportivas desde cedo.
Tratamentos com medicamentos, cirurgias bariátricas e terapias comportamentais têm sido eficazes?
Cada tratamento tem sua indicação específica e pode ser eficaz dependendo do caso. Alguns medicamentos ajudam no controle do apetite e na melhora metabólica, enquanto a cirurgia bariátrica é indicada para casos mais graves. Mas posso destacar que a terapia comportamental é essencial para mudanças sustentáveis no estilo de vida, e isso sim ajuda na adesão de hábitos saudáveis a longo prazo. O ideal é um tratamento multidisciplinar, personalizado para cada paciente.
Você acredita que a educação alimentar deveria ser reforçada desde a infância?
Sem dúvida! Ensinar desde cedo sobre alimentação equilibrada pode prevenir a obesidade no futuro. Escolas deveriam incluir educação nutricional no currículo, e campanhas de conscientização devem envolver pais e cuidadores. Um bom exemplo é incentivar a participação das crianças na escolha e preparo dos alimentos, tornando o processo educativo e prazeroso.
Com os avanços da ciência, há perspectivas para novas soluções no combate à obesidade nos próximos anos?
Sim, a ciência tem avançado muito. Novos medicamentos que atuam na regulação do apetite e no metabolismo estão sendo desenvolvidos. Além disso, a tecnologia também ajuda com aplicativos que auxiliam no acompanhamento nutricional e na prática de exercícios físicos. Estudos recentes sobre o papel do microbioma intestinal na obesidade também podem levar a novas abordagens terapêuticas.
Como a obesidade sobrecarrega o sistema de saúde público e privado?
A obesidade, por ser um fator de risco, aumenta os custos com tratamentos para doenças associadas como diabetes, hipertensão e problemas cardíacos. No sistema público, isso significa maior demanda por consultas, exames e internações, enquanto no setor privado há impacto nos planos de saúde. A prevenção seria a melhor estratégia para aliviar essa sobrecarga e reduzir os gastos a longo prazo.
Quais políticas públicas são essenciais para conter o avanço da obesidade no Brasil?
Incentivo ao consumo de alimentos naturais é fundamental, além da necessidade de regulamentação da publicidade infantil. Também é preciso melhorar a infraestrutura para incentivar a prática de exercícios e facilitar o acesso. A educação é primordial, com programas de alimentação saudável em escolas e fortalecer o atendimento especializado no SUS.
Qual o papel da indústria alimentícia e do marketing na disseminação de hábitos pouco saudáveis?
A indústria tem grande influência, pois investe pesado na publicidade de produtos ultraprocessados, muitas vezes direcionada a crianças. Isso molda escolhas alimentares e contribui para o aumento da obesidade. É essencial repensar essa publicidade e incentivar a reformulação de produtos para torná-los mais saudáveis.
Sobre Thiago Viana
Thiago Viana é médico do esporte, nutrólogo e ortopedista. Formado pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM) em 2010. É pós-graduado em medicina esportiva pela faculdade BWS e em nutrologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).