Mentir faz parte da natureza humana. Desde pequenas omissões até grandes invenções, todos já contaram uma mentira em algum momento. No entanto, quando esse comportamento se torna um padrão recorrente e prejudicial, ele pode indicar um transtorno chamado mitomania. Afinal, em que momento a mentira deixa de ser algo comum e se torna um problema sério?
O impacto da mitomania na comunicação
A mitomania é um transtorno caracterizado pela compulsão em mentir, muitas vezes sem um motivo aparente. Segundo a doutora em expressividade Cristiane Romano, “mentir é uma prática comum que pode surgir de várias motivações, incluindo a necessidade de acessibilidade social, medo de exclusão ou um desejo de manipular a percepção dos outros”. Aliás, estudos indicam que cerca de 60% das pessoas afirmam mentir regularmente, seja para evitar conflitos ou por razões pessoais. Dessa forma, com o tempo, esse padrão pode comprometer relações interpessoais e, consequentemente, gerar desconfiança.
Esse comportamento afeta diretamente a qualidade da comunicação. Quando a verdade é constantemente distorcida, os laços de confiança se rompem, levando a mal-entendidos e conflitos. Além disso, o transtorno pode impactar a saúde emocional, resultando em sentimentos de culpa, ansiedade e isolamento. “Cada vez que uma pessoa mente, ela se afasta da comunicação autêntica e desenvolve uma máscara que pode levar a complicações emocionais maiores”, explica Cristiane.
A mitomania é um transtorno ou apenas um mau hábito?
As pessoas não devem confundir mitomania com mentiras ocasionais contadas para evitar situações desconfortáveis. Afinal, segundo especialistas, a diferença está na compulsão e no prejuízo causado. Além disso, “o critério para mentira patológica é a frequência excessiva e o impacto negativo na vida da pessoa, podendo gerar sofrimento e representar riscos”, afirma a psicanalista Rachel Poubel. Ou seja, isso significa que a mitomania pode levar a consequências graves, como perda de credibilidade, problemas profissionais e dificuldades nos relacionamentos.
Portanto, a compulsão por mentir pode ter raízes profundas. Para Rachel, “a mentira traz uma falsa sensação de benefício, especialmente para pessoas com baixa autoestima e necessidade de aceitação”. Sendo assim, entender os fatores que levam a esse comportamento é essencial para buscar soluções.
Como identificar e tratar
A mitomania pode se manifestar de maneira sutil no início, mas à medida que o comportamento se intensifica, os sinais se tornam evidentes. Algumas características comuns incluem:
- Distorção frequente da realidade;
- Mentiras inconsistentes e fáceis de serem descobertas;
- Falta de remorso mesmo ao ser confrontado;
- Dificuldade em manter relacionamentos devido à falta de credibilidade.
Lidar com a mitomania exige buscar ajuda especializada. A terapia psicológica é uma alternativa para ajudar a identificar os gatilhos das mentiras, trabalhar a autoestima e desenvolver estratégias para uma comunicação mais honesta. “Cuidar da forma como nos comunicamos e construir consciência sobre o impacto das mentiras é essencial para evitar conflitos e manter relações saudáveis“, reforça Cristiane.
Em um mundo onde a desinformação é cada vez mais comum, entender a mitomania e seus efeitos é um passo fundamental para promover uma comunicação mais transparente e genuína. Se você conhece alguém que apresenta esses sinais, incentivar a busca por apoio profissional pode ser uma maneira de ajudar essa pessoa a recuperar a confiança e o equilíbrio emocional.