Excesso de tela: especialistas explicam por que o uso indiscriminado desses dispositivos pode, de fato, prejudicar o desenvolvimento infantil e escolar.
Atualmente, crianças que passam horas diante das telas têm cada vez menos tempo para interagir, brincar e explorar o mundo à sua volta – atividades que são essenciais para o desenvolvimento da linguagem, das habilidades sociais e, consequentemente, do desempenho escolar. Desde os primeiros meses de vida, o excesso de tela pode interferir significativamente na construção dos “mapas cerebrais” de sons e palavras e, além disso, comprometer a qualidade das interações, que são fundamentais para o desenvolvimento socioemocional. Em idades mais avançadas, essa exposição excessiva afeta diretamente a capacidade de concentração e aprendizado. Diante desses efeitos preocupantes, torna-se ainda mais urgente a necessidade de estabelecer limites claros no uso da tecnologia, tanto em casa quanto na escola.
Excesso de tela e a nova lei: uma passo para minimizar impactos
Esse tema ganha ainda mais relevância neste período de volta às aulas, especialmente porque a recente sanção da lei federal proíbe celulares em escolas, salvo para fins pedagógicos ou de segurança. Além disso, a medida, que já é aplicada em países como França, Canadá e México, busca reduzir os efeitos negativos do excesso de tela no ambiente escolar. Assim, a partir deste ano letivo de 2025, dispositivos como telefones, tablets e smartphones estarão proibidos durante aulas, recreios e atividades extracurriculares, exceto em situações de emergência ou questões de saúde.
Para a coordenadora do Departamento de Foniatria da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), Vanessa Magosso Franchi, a regulamentação da lei representa um avanço importante para proteger o desenvolvimento infantil. “A decisão é positiva, pois ajuda a minimizar os impactos negativos do excesso de tela no ambiente escolar. Mas o papel dos pais e responsáveis é essencial nesse processo”, reforça. Segundo a especialista, é em casa que as bases do desenvolvimento linguístico e cognitivo se consolidam, por meio de estímulos como conversas, leituras e brincadeiras. “Esses momentos de interação são insubstituíveis e fundamentais nos primeiros anos de vida”, diz.
Dificuldade de linguagem e de aprendizado
A relação entre excesso de tela e atraso na fala é um dos principais alertas dos especialistas. A médica otorrinolaringologista e também foniatra do Departamento de Foniatria da ABORL-CCF, explica que crianças pequenas possuem sistemas auditivos imaturos e precisam de um ambiente sonoro claro para associar palavras aos seus significados. “Televisões ou aparelhos constantemente ligados criam ruídos de fundo que dificultam esse processo. Se a criança não consegue ouvir claramente o som da fala, ela pode ter dificuldade em construir o vocabulário e apresentar atrasos significativos na linguagem”, enfatiza.
A questão se estende para crianças e adolescentes em idade escolar, que enfrentam desafios como distração, dificuldades de concentração e queda no desempenho acadêmico. Em casos mais graves, o excesso de tela pode afetar o sono, o equilíbrio emocional e as relações sociais. Do mesmo modo, é um gatilho para transtornos como ansiedade e isolamento.
Para minimizar esses impactos, especialistas do Departamento de Foniatria da ABORL-CCF recomendam limites no uso de telas em diferentes fases da infância:
- Até 2 anos: Evitar totalmente o uso.
- De 2 a 6 anos: Limitar a 1 hora diária, priorizando atividades que envolvam interação com familiares ou cuidadores.
- Acima de 6 anos e adolescentes: Estabelecer equilíbrio com atividades físicas, sociais e educacionais.
“A tecnologia pode ser uma aliada quando usada de forma consciente. É essencial que pais e educadores promovam momentos de interação e aprendizado longe das telas. Nesse sentido, ajudam as crianças a desenvolverem não apenas habilidades acadêmicas, mas também sociais e emocionais que serão fundamentais para o futuro”, finaliza Vanessa.