A anquiloglossia, popularmente conhecida como ‘língua presa’, é uma condição congênita que, devido à presença de um frênulo lingual curto ou espesso, limita os movimentos da língua. Como consequência, essa restrição pode interferir significativamente no aleitamento materno e, além disso, comprometer o desenvolvimento adequado da criança.
Impactos da anquiloglossia no aleitamento materno
Quando o frênulo lingual é anormal, a mobilidade da língua fica comprometida, o que dificulta a pega correta do seio materno pelo bebê. Como resultado, a sucção se torna ineficaz, levando, assim, a uma ingestão inadequada de leite e, consequentemente, à perda de peso ou até mesmo à desnutrição. Além disso, as mães podem experimentar dores intensas e fissuras nos mamilos, fatores que, com frequência, contribuem para o desmame precoce. Diante desse cenário, a pediatra Michelle Marchi de Medeiros, coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e Maternidade do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), destaca:
“Além de prejuízos para o aleitamento materno, essencial até os seis primeiros meses de vida, o problema pode desencadear má digestão, problemas ortodônticos, alterações motoras e irritabilidade.”
O diagnóstico da anquiloglossia pelo teste da linguinha
O ‘teste da linguinha‘ avalia a anatomia e a funcionalidade da língua do recém-nascido, permitindo o diagnóstico da anquiloglossia de forma simples e indolor. No Brasil, desde junho de 2014, a Lei Federal 13.002 tornou obrigatória a realização desse protocolo em todas as maternidades do país. A pediatra acrescenta:
“O procedimento é rápido, indolor e eficaz, possibilitando o diagnóstico e indicação do tratamento precoce das limitações dos movimentos da língua.”
Quando a intervenção é necessária
O tratamento da anquiloglossia, por sua vez, depende da gravidade da condição e dos sintomas apresentados. Quando há impacto significativo na amamentação ou no desenvolvimento oral, a frenectomia lingual costuma ser recomendada. Esse procedimento cirúrgico consiste na remoção ou liberação do frênulo lingual, o que permite uma maior mobilidade da língua. Os profissionais de saúde geralmente realizam a intervenção de forma rápida, utilizando anestesia local. Após a cirurgia, eles indicam terapias complementares, como a fonoaudiologia, para auxiliar a adaptação funcional da nova amplitude de movimentos da língua.
Prevalência da condição em crianças brasileiras
Um estudo transversal realizado em Recife, Pernambuco, em 2018, avaliou 147 recém-nascidos para diagnosticar a anquiloglossia. Foram usados dois instrumentos de avaliação do frênulo lingual: o Bristol Tongue Assessment Tool (BTAT) e o “Teste da Linguinha”. Os resultados mostraram uma prevalência de anquiloglossia de 4,8% com o BTAT e 17,0% com o “Teste da Linguinha“, indicando variações no diagnóstico conforme o instrumento utilizado.
Além disso, uma nota técnica do Ministério da Saúde, publicada em dezembro de 2023, reforça os procedimentos para identificação da anquiloglossia em recém-nascidos. O documento destaca que, nos casos mais graves, a condição pode causar dificuldades na amamentação, como problemas na pega, sucção e deglutição do leite materno, bem como dores e fissuras nos seios maternos. O fato, leva ao desmame antes do período recomendado. Ou seja, o diagnóstico precoce é o primeiro passo para corrigir a condição e assegurar o desenvolvimento adequado do bebê.
Esses dados fortalecem a importância do diagnóstico precoce e da conscientização sobre a condição para garantir intervenções adequadas e oportunas. Em resumo, a anquiloglossia é uma condição que pode impactar diretamente a qualidade de vida do bebê e da mãe, especialmente no que tange ao aleitamento materno. Dessa forma, a intervenções apropriadas são eficazes para minimizar possíveis complicações e promover um desenvolvimento saudável na primeira infância.